quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Balada de sangue e sol

O corpo solto corre pela linha
de todo dia.
Senhoras e senhores,
o corpo.
Uma cabeça que há de
ficar extraviada de tanta
paixão.
Não há caminho.Não há nada.
O corpo vai e vem
fazendo sombra.
Súbito para,sonha e envelhece.
 Não é morte.É desejo.
Não é morte.É desejo.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Gente que passa

A gente passa pulando
a cerca,roubando sonhos,
deixando histórias
e uma canção
prá recordar.

A gente é feito do mesmo
jeito,da mesma terra;
acende o fogo,
bebe a água,
respira o ar.

A gente erra,a gente
fere como outros tantos.
Com muita
sorte a gente chega
em algum lugar.

As nossas sombras

Escuta no surdo instante
o peso das vozes que sussurram.
Ressoa como se partisse
a terra em pedaços grandes.
Apenas ouve.
Ouve o lamento que atordoa
e vai crescendo atrás de você.

 Porque a insanidade é particular
e somos todos loucos.

Pode correr agora.Tropeça nas pedras
e galhos.
Foge dos gritos que envolvem
sangue e espírito.
Cai agora de joelhos,
deixa elevar o espírito.
Liberta as lágrimas aprisionadas.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

santificado nas esquinas por aí

Aquela alma se retorce lenta.
Em uma esfera assombrosa
cai na escuridão.
Aquela alma chora e não
sabe quando é o fim.
É tanto medo que envolve
o tempo é ruim;
a chama ardente queima
o resto que ainda resta
de um pobre coração.

O frio cobrindo os ossos
é gelo sobre o peito,
nem sabe,nem suporta
caber mais em si mesmo.
É o vento,o gelo,o sangue
que secou.
Partiu seus lábios com
duras palavras,
caíram dos seus braços
tudo o que passou.

É noite agora,e bem mais tarde
já se foi.O tempo inteiro é pouco
onde esse prisioneiro
quer tentar viver.
Os homens se protegem
das suas misérias procurando
alguém.
Fumaça, os olhos cegos tentam
encontrar a placa no caminho
 mostrando a razão.

.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Hoje nunca foi um dia



Minhas mãos atravessam
o nada e voltam a sumir.
Meus pés estão fracos
e perdem cada segundo.

Apenas uma fração
de voz pequenina.
Hoje nunca foi
um dia.

sábado, 26 de novembro de 2011

Linha extensa



Há um longo caminho
já percorrido.
De rostos espantados
que ficaram com as
mãos estendidas.

Um rastro de idéias
desfeitas;
desbotadas e soltas
ao vento.
Esfarelaram-se.

Há uma trajetória
marcada com a assinatura
dos erros
insistentes causados pela
ignorância.

No fundo das avenidas escuras
destes abismos
o coração é arrastado.
O malabarismo
misterioso da vida.



sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Morrer é negar-se o dia seguinte.

A estrada vazia



Vendo esta estrada que espera
minha ternura de coração vago,
ouço chamar pelo meu nome.
De certa forma ficará guardado
em meus passos.
Sinto no céu e no vento uma
estranha força,a mesma que
comprime meu peito;
que liberta,me expulsa de vez
do vazio.Então deixo-me levar
pela mão estendida no fim da
estrada.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Minhas partes esquecidas

O menino que eu era ficou
brincando sozinho na rua.
Criando aviões na sombra
dos dedos,tropeçando aéreo
nos céus.

Ele me vê nos sinais do tempo
e no cinema dos sonhos perdido.
Abraçado no brinquedo,
talvez  possa refrescá-lo com
minhas lágrimas insistentes.

Sou cada caminho medido
destes aniversários que faço
todo inverno...Sou a pergunta
do menino sozinho.
De fato,inevitável menino.

domingo, 15 de maio de 2011

Manhã de uma manhã

Descuido se é dia ou noite.
Meus sonhos escondem o céu.
Meu caminho é um clarão
que ocorre incidental.

Sem a densidade do limite;
esparso,ardente..ardente vou.
Vou mais alto e leve.
Mas ocorre lembrar de acordar.

Aflito,desperto diante de mim.
Ardendo aos poucos,
nascendo outra vez.
Minha face na água,no espelho.

E as horas arrastam
meu pensamento
encobrindo a verdade.
E a verdade,nem sei o que é.

Homem descalço

O mendigo extrai das ruas
as sobras da cidade.
E ele devolve isto para
cidade sendo mendigo.

As fezes do mendigo
ardendo ao sol,
agridem e surpreendem
por estarem ali no caminho.

O teu olhar de repulsa
é também uma merda
para o mendigo;
ele te olha acuado.

O mendigo é tudo
aquilo que você não quer.
Você sente medo
quando ele fala por perto.

Mas você esconde suas misérias,
suas falhas de caráter.
Você também
é sujo.

Você apenas corta
os cabelos,faz a barba,
toma banho...
Você apenas esconde...

Você é louco e sujo.
Talvez a sociedade
não saiba,
Você é assustador...

Quando chega o verão

Quando chega o verão
vou desfolhando
minhas peles.
Minhas camadas
de ouro e veludo.

Vou deixando escapar
pelos muros
meus sonhos,
minhas redes de pescar
momentos legais.

Quando chega o verão
vou envelhecendo;
subtraindo-me
por inteiro.
Peça ruim de mim mesmo.

Se eu pudesse,
na chegada do verão,
inventaria um inverno
particular
com céu prateado...

Palavra

Talvez,na palavra solitária,
entre quilômetros
de estradas escritas
esteja o ponto
de partida.

Mesmo que seja
como "nada",
poderá ser vazio,
ou contra toda
correnteza.

Há na palavra
uma simbologia
que nunca será
traduzida,
daí vem as frases.

Já não vemos a palavra
sossegada,
entre outras
espremida.
Ler a frase é ir em frente.
sem palavras digeridas.

sábado, 14 de maio de 2011

Canto Calado

Às vezes ouço teu canto calado,sem som.
O canto que só é possível exister no
silêncio.
Que nasce da morte das palavras.
se me é possível decifrá-lo:
Os gestos denunciam ritmo;
o olhar declara fina melodia,
o vento faz com que os cabelos
dancem.
O sol ilumina teu caminho,
a rua serve de tapete,e as
pessoas,meros figurantes
ao fundo deste espetáculo.
Enquanto você passa,
impossibilitando-me de olhar
para o que quer que seja,
teu sorriso manipula os astros.
Teu ritmo rompe o fio da razão.
Meu coração é arrastado por
essa tempestade.

coisas

Cama-prá gente se aproximar.
Espelho-Vejo teu rosto nos meus olhos.
Mesa-Onde escrevo prá ti.
Guarda-roupas- Onde um dia nossos
roupas estarão misturadas...

O tempo

Hoje vi um velho debruçado no portão
de sua casa observando as crianças
que jogavam bola.
Ele sorria com ar de quem conhece
o tempo.
Ele espera sua gôndola para atravessar
os canais do desconhecido.
Um dia as flores,um outro a chuva fina.
Por enquanto janelas sempre abertas
para o sol.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Leonino 28/07/1966

Sou de Julho bem frio..um Leão urbano.
Adormeço na chuva,
estraçalho toda carne.
Recuo por estratégia
e só avanço com a certeza
da vitória.
Posso esquecer-me,
afastar-me do bando,
ao ver teus olhos negros,
vinte oito vezes me apaixono.

Amiga

Pelos meus impossíveis dias anteriores
ressuscitados, faço as pazes com o tempo.
Trouxe você de volta realizando meu sonho.

Banhei-me nas fontes,ganhei asas.
Lutarei nas arenas com deuses
gigantes até amanhecer.

domingo, 8 de maio de 2011

Poema em face do mundo

Eu era velho como um menino,
e andava nú carregando estrelas.
Chamava o tempo com 
um apito,
girava as horas
entre meus dedos.

Eu era pobre como
um deus rico,
corria louco sem
ter juízo,
(seria igual se não
fosse um sonho).
A minha face em
poema escrito.

Dá uma dor saber agora
que sou as coisas que
havia visto,
eu feito bobo
vivia sempre,
escrevendo versos
feito bandido.

O rei nas horas

Acorda nos perigos,
no deserto dos afagos;
afoga em mil braços
no gemido dos desejos.

A vida é um risco,
entre o sangue
e o silêncio.
O sal de um beijo.

Cor de prata
na paisagem.
Cor de prata
no caminho.

Chora no colo
das ondas
do suor da
criatura que abraça.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Poema esquecido

Um velho poema erguendo suas forças apoia-se trêmulo no centro da folha. Olha para um lado; para outro, apanha um pouco de ar matinal, e sem que ninguém perceba, volta para o dicionário deixando a folha novamente em branco.

Inteiramente toda

Uma boca olhando olhos negros beijando mãos caminham por campos de nuvens dentes afagam cabelos choram pés escrevem por céus de lajota sorrisos espalham lágrimas tortas sapatos desejam caminhos mais curtos Totalmente inteira por trás de quem chora caiu na rua tropeçando na estrela

Vidro e sangue

Infames dormem na sujeira que abrigam na alma. Cortam a paisagem com lâmina feroz. Bebem o impossível do sangue amarrados em farpas de arame. As vozes que zumbem são suas mortes galopantes. Seus amores escorrem pelas frestas e amarras.

poema pintado a mão

A pétala no seio pousou como pássaro branco. E ela, toda despida, não hesitou em sorrir.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Colo de pedra

Ah,as ondas molham as palavras,
perseguem meus calcanhares
enquanto corro.
Vou catando meus rostos
no chão entre os gritos
das sombras.
Ah,as ondas atravessam-me,
toda carne chora
enquanto luto com as pedras.
A areia me engole e cospe
de volta,
faço coisas estranhas.
Ah,vou cortar meus braços
e pernas,
e também as asas.
Vou acordar novamente
para saber
quem sou.

Chuva

Música que me leva
tão distante,
que me faz sonhar...
Voa comigo por lugares
estranhos
sem descrição...
Música que me faz
girar as horas
por entre os dedos...
Será mesmo o
som do
velho piano?
Música é
Deus brincando
com gotas de água.