quinta-feira, 19 de maio de 2011

Minhas partes esquecidas

O menino que eu era ficou
brincando sozinho na rua.
Criando aviões na sombra
dos dedos,tropeçando aéreo
nos céus.

Ele me vê nos sinais do tempo
e no cinema dos sonhos perdido.
Abraçado no brinquedo,
talvez  possa refrescá-lo com
minhas lágrimas insistentes.

Sou cada caminho medido
destes aniversários que faço
todo inverno...Sou a pergunta
do menino sozinho.
De fato,inevitável menino.

domingo, 15 de maio de 2011

Manhã de uma manhã

Descuido se é dia ou noite.
Meus sonhos escondem o céu.
Meu caminho é um clarão
que ocorre incidental.

Sem a densidade do limite;
esparso,ardente..ardente vou.
Vou mais alto e leve.
Mas ocorre lembrar de acordar.

Aflito,desperto diante de mim.
Ardendo aos poucos,
nascendo outra vez.
Minha face na água,no espelho.

E as horas arrastam
meu pensamento
encobrindo a verdade.
E a verdade,nem sei o que é.

Homem descalço

O mendigo extrai das ruas
as sobras da cidade.
E ele devolve isto para
cidade sendo mendigo.

As fezes do mendigo
ardendo ao sol,
agridem e surpreendem
por estarem ali no caminho.

O teu olhar de repulsa
é também uma merda
para o mendigo;
ele te olha acuado.

O mendigo é tudo
aquilo que você não quer.
Você sente medo
quando ele fala por perto.

Mas você esconde suas misérias,
suas falhas de caráter.
Você também
é sujo.

Você apenas corta
os cabelos,faz a barba,
toma banho...
Você apenas esconde...

Você é louco e sujo.
Talvez a sociedade
não saiba,
Você é assustador...

Quando chega o verão

Quando chega o verão
vou desfolhando
minhas peles.
Minhas camadas
de ouro e veludo.

Vou deixando escapar
pelos muros
meus sonhos,
minhas redes de pescar
momentos legais.

Quando chega o verão
vou envelhecendo;
subtraindo-me
por inteiro.
Peça ruim de mim mesmo.

Se eu pudesse,
na chegada do verão,
inventaria um inverno
particular
com céu prateado...

Palavra

Talvez,na palavra solitária,
entre quilômetros
de estradas escritas
esteja o ponto
de partida.

Mesmo que seja
como "nada",
poderá ser vazio,
ou contra toda
correnteza.

Há na palavra
uma simbologia
que nunca será
traduzida,
daí vem as frases.

Já não vemos a palavra
sossegada,
entre outras
espremida.
Ler a frase é ir em frente.
sem palavras digeridas.

sábado, 14 de maio de 2011

Canto Calado

Às vezes ouço teu canto calado,sem som.
O canto que só é possível exister no
silêncio.
Que nasce da morte das palavras.
se me é possível decifrá-lo:
Os gestos denunciam ritmo;
o olhar declara fina melodia,
o vento faz com que os cabelos
dancem.
O sol ilumina teu caminho,
a rua serve de tapete,e as
pessoas,meros figurantes
ao fundo deste espetáculo.
Enquanto você passa,
impossibilitando-me de olhar
para o que quer que seja,
teu sorriso manipula os astros.
Teu ritmo rompe o fio da razão.
Meu coração é arrastado por
essa tempestade.

coisas

Cama-prá gente se aproximar.
Espelho-Vejo teu rosto nos meus olhos.
Mesa-Onde escrevo prá ti.
Guarda-roupas- Onde um dia nossos
roupas estarão misturadas...

O tempo

Hoje vi um velho debruçado no portão
de sua casa observando as crianças
que jogavam bola.
Ele sorria com ar de quem conhece
o tempo.
Ele espera sua gôndola para atravessar
os canais do desconhecido.
Um dia as flores,um outro a chuva fina.
Por enquanto janelas sempre abertas
para o sol.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Leonino 28/07/1966

Sou de Julho bem frio..um Leão urbano.
Adormeço na chuva,
estraçalho toda carne.
Recuo por estratégia
e só avanço com a certeza
da vitória.
Posso esquecer-me,
afastar-me do bando,
ao ver teus olhos negros,
vinte oito vezes me apaixono.

Amiga

Pelos meus impossíveis dias anteriores
ressuscitados, faço as pazes com o tempo.
Trouxe você de volta realizando meu sonho.

Banhei-me nas fontes,ganhei asas.
Lutarei nas arenas com deuses
gigantes até amanhecer.

domingo, 8 de maio de 2011

Poema em face do mundo

Eu era velho como um menino,
e andava nú carregando estrelas.
Chamava o tempo com 
um apito,
girava as horas
entre meus dedos.

Eu era pobre como
um deus rico,
corria louco sem
ter juízo,
(seria igual se não
fosse um sonho).
A minha face em
poema escrito.

Dá uma dor saber agora
que sou as coisas que
havia visto,
eu feito bobo
vivia sempre,
escrevendo versos
feito bandido.

O rei nas horas

Acorda nos perigos,
no deserto dos afagos;
afoga em mil braços
no gemido dos desejos.

A vida é um risco,
entre o sangue
e o silêncio.
O sal de um beijo.

Cor de prata
na paisagem.
Cor de prata
no caminho.

Chora no colo
das ondas
do suor da
criatura que abraça.